Queda de juros faz investimento em renda fixa ficar pior ainda; que fazer?
quinta, 06 de agosto de 2020
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central cortou a taxa básica de juros (Selic) para 2% ao ano, menor patamar desde o início da série histórica, em 1996. Esse novo corte deixou as aplicações conservadoras em renda fixa —como poupança, Tesouro Selic e Fundos DI ainda menos atraentes como alternativas de longo prazo. Em busca de rendimentos mais interessantes, aplicadores devem ampliar a migração de recursos para produtos de renda variável, como ações, fundos de ações e fundos imobiliários, dizem profissionais de mercado, ainda que essas opções representem maior risco, em especial em um ano marcado por pandemia e crise.
Produtos que acompanham a Selic ou seguem o CDI, que tem relação com a taxa básica de juros, terão uma variação ainda mais desvantajosa em relação à inflação. Veja abaixo alguns exemplos, considerando uma aplicação para saque feito após 360 dias de investimento. Nesses casos, investimentos que pagam imposto são taxados em 17,5% sobre o rendimento. Para medir se há algum ganho real, ou seja, acima da inflação, consideramos o IPCA projetado pelo mercado no Boletim Focus do Bancos Central para 2021, que é de 3%. Então, para cada R$ 1.000 aplicados, a inflação deve corroer R$ 30.
Valor aplicado: R$ 1.000
Rendimento bruto: R$ 20
Rendimento líquido: R$ 16,50 (desconta R$ 3,50 de Imposto)
Ganho real: perda de R$ 13,50 (desconta inflação)
Valor aplicado: R$ 1.000
Rendimento bruto: R$ 20
Rendimento líquido: R$ 12,35 (desconta imposto e taxa de administração)
Ganho real: perda de R$ 17,65 (desconta inflação).
Valor aplicado: R$ 1.000
Rendimento bruto: R$ 14 (70% da Selic)
Rendimento líquido: R$ 14 (não paga imposto)
Ganho real: perda de R$ 16
Quem tem dinheiro aplicado nas chamadas cadernetas antigas, aquelas que seguem as regras válidas até 2012, vai receber um rendimento maior, de 0,6% ao mês mais TR (que está em zero). Então, nessas aplicações, o rendimento anual é de aproximadamente 6% ao ano, dando a cada R$ 1.000 aplicados um ganho de R$ 60, ou seja, o dobro da inflação projetada para 2021. O problema dessas aplicações é que elas não podem mais receber depósitos. Apenas saques são permitidos. Por isso, quem tem dinheiro aplicado aqui deve preservar ao máximo porque o ganho proporcionado é hoje imbatível.
Essas simulações mostram que os produtos tradicionais de renda fixa, considerados de menor risco, estão cada vez mais incapazes sequer de seguir a inflação. Ainda assim, devem funcionar como alternativas de reserva de emergência, dizem profissionais financeiros.
“A renda fixa continua tendo seu papel para compor aquela parte dos investimentos que precisam estar disponível para cobrir imprevistos. A maior finalidade dessas aplicações não é a rentabilidade, mas representar um dinheiro que esteja disponível, com menor risco possível, seja de calote, seja de oscilação”.
Para profissionais de mercado, os investidores precisam diversificar as aplicações se o objetivo do investimento for de longo prazo, com um horizonte superior a cinco anos, pelo menos. Para o executivo da Integral Investimentos, Mauro Rached, o novo corte mostra, de um lado, que a economia está pior, e por isso precisa de mais esse estímulo. Por outro lado, a Selic mais baixa sinaliza que os juros devem demorar mais para voltar a subir o que é positivo para quem pretende aumentar posições em aplicações de risco.
“Muito provavelmente, a tendência da maioria dos investidores de pequeno porte na Bolsa é olhar esse corte de juros pela vertente altista dessa medida”.
Segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais representa as instituições do mercado de capitais brasileiro), os fundos de ações e fundos multimercados apresentam este ano até o dia 4 de agosto, uma captação líquida ou seja, novas aplicações menos as retiradas de R$ 55,5 bilhões e R$ 56 bilhões, respectivamente. Na contramão, os fundos de renda fixa registram saques líquidos acumulados de R$ 50 bilhões no mesmo período. "Estamos vendo já há algum tempo o número percentual de pessoas físicas subir muito na Bolsa, mas ainda é um número muito baixo, de 1,1% da população brasileira que investe dinheiro em Bolsa. Nos Estados Unidos, para comparar, esse percentual é de cerca de 50% da população", disse o sócio da Acqua Investimentos, Bruno Musa.
Os profissionais de mercado destacam que Bolsa e outros produtos de renda variável, como fundos imobiliários ou fundos multimercados, devem ser vistos como aplicações de longo prazo porque sempre podem apresentar oscilações e perdas no curto prazo. De fato, em 2020, até o fim de julho, por exemplo, o Ibovespa, principal indicador acionário do país, apresentavam perda de 11%. E para zerar essas perdas, o indicador teria que subir mais 13% até dezembro. Mas os mesmos especialistas lembram que o Ibovespa vem de quatro anos seguidos de ganhos: 38,9% em 2016, mais 26,9% em 2017, depois 15% em 2018, e ainda 32% em 2019.
“Acredito numa migração de recursos maior para fundos multimercado, fundos imobiliários e fundos de ações na busca por retornos maiores. O brasileiro também está começando a diversificar seus recursos por país, então os fundos internacionais ganham cada vez mais apelo”.
O chefe de alocação da XP Investimentos, Felipe Dexheimer, traçou diferentes cenários para a economia nos próximos cinco anos, para estimar quanto a Bolsa pode render, na média por ano, ao investidor. "Esperamos um retorno próximo de 10% ao ano para o investidor, comparado a uma inflação de 3% e um CDI de 4% ao ano", disse.
FONTE: João José Oliveira do UOL, em São Paulo 05/08/2020 SAIBA MAIS EM: https://economia.uol.com.br/financas-pessoais/noticias/redacao/2020/08/05/queda-da-selic-faz-investimento-em-renda-fixa-ficar-pior-ainda-que-fazer.htmGaleria de Fotos